Etiquetas
XXXVI
Vive em cada minuto
a tua eternidade
— sem luto
nem saudade.
Vive-a pleno e forte
num frenesim
de arremesso.
Para que a tua morte
seja sempre um fim
e nunca um começo.
Poema XXXVI de Sonâmbulo (1941-42-43).
Carnaval, tempo de música, de dança, de divertimento, quando os interditos ficam fora do agir, traz consigo o sabor da vida fácil e :
Tu que rodopias, leve,
no desdobrar de seda
que paira neste vento de música
que só as pétalas entendem…
levas-me ao regaço da memória quando o gozo era simples e sem sobressaltos de tristeza,
Tu que…
(Ah! tu que me pesas nos braços
como se trouxesses um esqueleto de lágrimas
e uma bola de metal no coração
ferrugenta do meu remorso.)
Agora que esquartejei o poema de José Gomes Ferreira (1900-1985), convido-vos à sua leitura integral, sem os meandros que à memória me trouxe.
VIII
Toda a gente me inveja
porque ando contigo nos braços…
Tu que pareces um perfume desenhado de mulher
vestida de pólen
e dois olhos que são dois instrumentos modernos
a auxiliarem a melodia do jazz…
Tu que rodopias, leve,
no desdobrar de seda
que paira neste vento de música
que só as pétalas entendem…
Tu que…
(Ah! tu que me pesas nos braços
como se trouxesses um esqueleto de lágrimas
e uma bola de metal no coração
ferrugenta do meu remorso.)
Poema VIII de Cabaré (1933),
Poemas transcritos de Poeta Militante, 1º volume, Moraes Editores, Lisboa, 1977.
A imagem de abertura traz uma pintura de Paula Rego – A dança.