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Caspar David FRIEDRICH 00Existe em nós

um sentido especial para a poesia,

uma disposição poética.

A poesia é absolutamente pessoal,

e por isso indefinível.

Quem não souber nem sentir

de forma imediata

o que é a poesia,

nunca poderá aprendê-lo.

Poesia é poesia.

Diferente, como a noite do dia,

da arte da fala e da palavra.

 

O fragmento tem um ideal: uma alta condensação, não de pensamento, ou de sabedoria, ou de verdade (como na máxima), mas de música: ao ‘desenvolvimento’ opor-se-ia o ‘tom’, qualquer coisa de articulado e de cantado, uma dicção…“. Citei Roland Barthes a abrir uma escolha de fragmentos de Novalis.

 

 

Ser completo, ser uma pessoa —

é a finalidade

e a pulsão

do ser humano.

Caspar David FRIEDRICH 06

É na oposição à totalidade que o fragmento se situa, quais pedras do mosaico infinito da vida. Dá ele conta de intuições, vestígios, por vezes ilumina um enigma, outras acontece ser veículo de alegorias.

O leitor apreciador de fragmentos é um leitor de começos ( como bem observa João Barrento no ensaio/introdução aos Fragmentos de Novalis (1772-1801) que traduziu, e hoje transcrevo), melancólico por excelência, para quem o perambular é o propósito:

 

 

Procuramos por toda a parte

o que está para lá das coisas,

e o que encontramos

são apenas coisas.

 

 

Quando procuramos o que está para lá das coisas, o que procuramos é a verdade:

 

 

O ser humano afirma-se pela verdade.

Se renuncia à verdade, renuncia a si próprio.

Quem trai a verdade, trai-se a si próprio.

E isto não significa mentir,

mas agir contra as convicções.

Caspar David FRIEDRICH 05

Meditado que está o sentido da verdade, termino com alguns fragmentos sobre o amor:

 

Caspar David FRIEDRICH 00A

 

Todo o objecto amado

é o centro de um paraíso.

 

*

 

O amor é a finalidade final

da história do mundo —

o ámen do universo.

 
*

 

Todo o encantamento é uma loucura

artificialmente provocada.

Toda a paixão é um encantamento

e uma rapariga atraente

uma feiticeira mais real

do que se julga.

 

 

Notícia bibliográfica

Novalis, Fragmentos são Sementes, Selecção, tradução e ensaio de João Barrento, Roma Editora, Lisboa, 2006.

 

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Acompanham o artigo algumas pinturas de Caspar David Friedrich (1774-1840).