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Jean-Marie Auradon - nu femininoAinda não é o tempo de vos ocupar com erudições a propósito da poesia do Al-Andaluz, por isso, deixo-vos apenas um poema de Al-Sarif al-Talïq / O Principe Amnistiado (961-1009).

A foto de Jean-Marie Auradon (1887-1958) que abre o artigo, mostra um dos mais belos nus de mulher que conheço em fotografia, e pareceu-me digna de transmitir visualmente a beleza cantada no poema.

A formosa na orgia

Seu talhe flexível era um ramo que balouçava sobre o montão de areia de
seus quadris, e do qual colhia meu coração frutos de fogo.

Os ruivos cabelos que cobrem suas têmporas debuxavam um lam na branca pagina da maçã do rosto, como ouro que escorre sobre prata.

Estava no apogeu da sua beleza, como o ramo se veste de folhas.

O vaso cheio de roxo néctar era, entre seus dedos brancos, como um crepúsculo que amanheceu em cima de uma aurora.

Saiu o sol do vinho, e era sua boca o poente, o oriente a mão do copeiro,
que ao despejar o vinho pronunciava formulas corteses.

E ao pôr-se no delicioso ocaso de seus lábios, deixava o crepúsculo nas maçãs de seu rosto.

A tradução é de Segismundo Spina e vem incluída em anexo no seu estudo clássico A LÍRICA TROVADORESCA publicado pela Editora da Universidade de S Paulo.