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Nestas coisas de amor quando a adolescência floresce, a confusão com a revelação do sexo instala-se, e deslindar sentimentos e prazer de descoberta nem sempre é tarefa fácil e bem conseguida.
Não será o caso neste primeiro poema da inspiração de Pedro Homem de Melo (1904-1984), Revelação: a duvida não existe. O poema é apenas um acto de agradecimento à mulher que o fez, adolescente, entrar no paraíso.
Revelação
Tinha quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
Na minha fronte, indómitos anéis
Vinham da infância, saltitando ainda.
Contavam dela: — Já falou a Reis!
Tinha quarenta e cinco… e eu, dezasseis…
Formosa? Não. Mais que formosa: linda.
Seu olhar diz: Seja o que o Amor quiser
A verdade planta que os meus dedos tomem!
Pela última vez foste mulher…
E eu, pela vez primeira, fui um homem!
No poema que segue não há confusão entre amor e sexo. É amor sem sexo:
Pela ausência da carne em teu afecto,
e o poeta agradece com um
Obrigado
Por teu sorriso anónimo, discreto,
(O meu país é um reino sossegado…)
Pela ausência da carne em teu afecto,
Obrigado!
Pelo perdão que o teu olhar resume,
Por tua formosura sem pecado,
Por teu amor sem ódio e sem ciúme,
Obrigado!
Por no jardim da noite, a horas más,
A tua aparição não ter faltado,
Pelo teu braço de silêncio e paz,
Obrigado!
Por não passar um dia em que eu não diga
— Existo, sem futuro e sem passado.
Por toda a sonolência que me abriga…
Obrigado!
E tu, que hoje és meu íntimo contraste,
Ó mão que beijo por me haver cegado!
Ai! Pelo sonho intacto que salvaste,
Obrigado! Obrigado! Obrigado!
Por aqui fica a poesia hoje, no delicado recorte de um poeta mal-amado.