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Depois da longa ausência regresso com uma brincadeira de João Penha .

 

Tradução

Risonho , disse eu a Inês,

Que num sofá se quebranta:

“Dormi mecum!” – “É francês?”

– “É frase da Biblia santa.”

 

– “Vê-me nervosa e confusa:

Eu nada sei, meu amigo:

Não hesite, vá! Traduza”

– Quer? – “Quero… “– Dorme comigo.

 

– “Oh! Que indecência, que horror!

Dizer-me essa cousa, a mim!

O que lhe vale, senhor,

É ter-ma dito em latim.”

 

Poeta hoje quase esquecido, foi imperador e rei de uma boémia que deixou nome e de que Guerra Junqueiro foi pactário. A sua poesia canta  duas coisas – o vinho e as mulheres.

Foi original. No seu tempo reinava o pieguismo, era-se tísico por amor da bela mas ele nunca carpiu o desgosto de viver.

E prático, forte, soberbo, deu-se a proclamar em verso a única terapeutica apropriada – a caneca do espumante e a fatia de salpicão ou a talhada de presunto.

Estas considerações retirei-as da introdução ao livro Canto do Cisne, assinadas por Albino Forjaz de Sampaio e publicado em 1923.

 

Intensamente interessado na vida literária do seu tempo, publicou em Coimbra, entre 1868 e 1873 A Folha, jornal literário de grande influência na época, conjuntamente com Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Cândido de Figueiredo, Francisco Gomes de Amorim, Simões Dias e outros.

Foi o volume de versos, Rimas, publicado em 1882, e onde se contêm os sonetos de “Vinho e Fel” que deu ao poeta a aura de que gozou até ao fim da vida.

Ler hoje a poesia e prosa de João Penha é um prazer inesperado, pelos temas, pela fluência do verso na sua rigorosa metrificação, e sobretudo, pelo entusiasmo de viver que deles transborda.