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Deslumbrado por este mosaico representando a Virgem Maria, sentindo o mistério de seu enigmático sorriso, digo com Rainer Maria Rilke (1875-1926): Assim a pintaram; sobretudo alguém, / que do sol a saudade trazia.
Na economia do seu geométrico desenho se plasma o mistério de alguém que tendo sido humano se acredita como divino.
Aproximando uma verosimilhança realista ao humano, dando a ver um igual que é diferente, é a essência do ser no seu poder de comunicar a serena paz da fé para além do incomensurável sofrimento que a imagem nos transmite.
Assim a pintaram; sobretudo alguém,
que do sol a saudade trazia.
Nele de todos os enigmas mais pura amadurecia,
mas do sofrimento cada vez mais se fez refém:
toda a sua vida foi como alguém que lágrimas vertia,
a quem o choro às mãos parar ia.
Ele é o mais belo véu do seu penar,
que se ajusta a seus lábios de cores magoadas,
e sobre eles quase em sorriso se vem a transformar…
e pela luz de sete velas por Anjos levadas
o seu segredo não se deixa desvendar.
in O Livro de Horas, tradução e apresentação de Maria Teresa Dias Furtado, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009.
A imagem que abre o artigo mostra o detalhe de um mosaico na igreja de Santa Maria in Trastevere, em Roma, construída no século. XII. Os mosaicos são posteriores, (1296-1300) e atribuído o seu desenho a Pietro Cavallini.