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Foi hoje ultrapassado o meio milhão de visitas ao blog na contagem do wordpress.
Aventura pessoal de escrita e escolha iconográfica ao sabor das disponibilidades de tempo e disposição, é gratificante saber que tanta gente, de tantos pontos do mundo encontra no blog algo que lhe interessa ou agrada, percorrendo-o ao sabor de acasos e curiosidade.
Este bloco-notas aberto ao mundo tem sido para mim um lugar de prazer e descanso, ocupação de ócios e reflexão, afinal registo de minudências ao lado das turbações do incerto quotidiano.
Há, de alguma forma, um paradoxo nos nossos dias: por um lado a apologia da competitividade na profissão com a exigência de permanente disponibilidade para atender ao trabalho sob pena de se ficar para trás e ser olhado como incompetente ou falhado, e por outro a profusão de solicitações para o lazer vindas do que Gilles Lipovetsky chama o “capitalismo artístico”. Entre o universo omnipresente do trabalho e a vertigem do consumo “estético” corremos o risco de a certa altura parar, ver como o tempo passou, e com ele a vida.
É um desafio de todos os dias a escolha entre o trabalho e o ócio, sabendo-se como a vivência dos afectos interfere nestas escolhas. E é aqui que as nossas opções, filosóficas, diria, ganham todo o sentido, fazendo-nos, ou não, caminhar por uma vida feliz.
Entendendo cultura como interiorização reflectida de conhecimento e saber, que lugar deixamos esta ocupar na nossa vida é a pergunta que coloco a quem me lê.
Termino com um poema de Friedrich Nietzsche (1844-1900) mais tarde incluído em Assim Falava Zaratustra, de onde o transcrevo.
Pretendente à verdade? Tu? — escarneciam —
Não! Apenas um poeta!
Um animal, e astuto, rapinante, furtivo,
Que tem de mentir,
Que tem, ciente e voluntariamente, de mentir:
Cobiçando a presa,
Mascarado de várias cores,
Máscara para si próprio,
Para si próprio presa…
Isto, o pretendente à verdade?
Não! Apenas louco! Apenas poeta!
Proferindo só discursos confusos,
Gritando desordenadamente por detrás de máscaras de bobo,
Andando por cima de mentirosas pontes de palavras,
Por cima de arco-íris multicolores,
Entre falsos céus e falsas terras,
Vagueando, pairando por aí…
Apenas louco! Apenas poeta!
Tradução de Paulo Osório de Castro.
in Friedrich Nietzsche, Assim Falava Zaratustra, Relogio D’Água Editores, Lisboa, 1998.