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Tag Archives: Leopardi

O Infinito — poema de Leopardi

27 Segunda-feira Ago 2018

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Leopardi, William Baziotes

Invade-nos uma sensação estranha à leitura dos Cantos de Giacomo Leopardi (1798-1837). Há um sopro de vida nos gestos de quotidiano que são o assunto dos poemas, e neles surge o intemporal e o essencial da condição humana.

No poema L’Infinito de 1819, a meditação solitária envolvida pela natureza, a que com prazer nos entregamos, leva o pensamento umas vezes pelas interrogações existenciais, outras apenas pelo espanto da imutável natureza na sua indiferença às paixões humanas.

 

O Infinito

Cara me foi sempre esta erma colina
E esta sebe, que por diversos lados
O extremo do horizonte veda ao meu olhar.
Mas, sentado e olhando, intermináveis
Espaços para além dela, e sobrehumanos
Silêncios, e sossego profundíssimo
No pensamento imagino; então por pouco
O coração se não sobressalta. E, quando o vento
Nas folhas ouço sussurrar, aquele
Infinito silêncio a esta voz
Vou comparando: e lembro-me do eterno,
E das mortas estações, e da que agora passa
E vive, do seu rumor. Assim no meio
Desta imensidade o pensamento se me afoga:
E naufragar me é doce neste mar.

Tradução de Albano Martins
in Giacomo Leopardi, Cantos, Apresentação, seleção, tradução e notas de Albano Martins,  Vega, Gabinete de Edições, Lisboa, s/d.

O Infinito

Sempre cara me foi esta erma altura
Com esta sebe que por tanta parte
Do último horizonte a visão exclui.
Sentado aqui, e olhando, intermináveis
Espaços para além, e sobrehumanos
Silêncios, e profunda quietude,
Eu no pensar evoco; onde por pouco
O coração não treme. E como o vento
Ouço gemer nas ervas, eu àquele
Infinito silêncio esta voz
Vou comparando: e sobrevem-me o eterno,
E as idades já mortas, e a presente
E viva, e seu ruído… Assim, por esta
Imensidade a minha ideia desce:
E o naufragar me é doce neste mar

Tradução de Jorge de Sena
in Poesia de 26 Séculos, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, 1993.

 

Poema original

 

L’Infinito

Sempre caro mi fu quest’ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell’ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l’eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Cosi tra questa
Immensita s’annega il pensier mio:
E il naufragar m’è dolce in questo mare.
(1819)

Transcrito de Leopardi, Canti, con uno scritto di Giuseppe Ungaretti, Arnaldo Mondadori Editore S.p.A., Milão, 1987.

 

Abre o artigo a imagem de uma aguarela de William Baziotes (1912-1963).

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Leopardi — A Si Mesmo

01 Quarta-feira Ago 2018

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Francis Bacon, Leopardi

Pelos Cantos de Leopardi (1798-1837) passa uma serena meditação sobre o que na vida nos importa, do nascimento à morte; a palpitação do amor e o fogo extinto; os sinais que da história nos ficam e a atenção ao contemporâneo que foi seu. Tudo numa poesia onde o inefável frequentemente surge transmitindo uma dimensão atemporal ao seu verso.

 

Estreio esta poesia no blog com o poema A Se Stesso, atípica reflexão juvenil, tinha o poeta 37 anos, sobre a finitude e o sentido da existência, em duas traduções em português: uma por Jorge de Sena, a outra por Albano Martins.

 

 

A Si Mesmo

Repousa para sempre,
exausto coração. Morto é o engano extremo
que eu supusera eterno. É morto. E sinto
que em nós de enganos caros
a mais da esp’rança, o desejar é extinto.
Repousa. Já bastante
hás palpitado. Coisa alguma vale
o teu bater, nem de saudade é digna
a terra. Tédio amargo
a vida, e nada mais; e lama é o mundo.
Quieto, pois. Desperta
por uma última vez. À raça humana o fado
não deu mais que o morrer. Ora despreza
a natureza, o triste
brutal poder que contra nós impera.
e o infinito vácuo do que existe.

Tradução de Jorge de Sena
in Poesia de 26 Séculos, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, 1993.

 

 

A Si Próprio

Repousarás agora para sempre,
Ó meu cansado coração. Está morta a suprema
Ilusão, que julguei eterna. Morta. Bem sinto
Que das minhas caras ilusões
Não a esperança, mas o desejo é extinto.
Repousa para sempre. Demasiado
Palpitaste. De nada valem
Teus movimentos, nem de suspiros é digna
A terra. Amargor e tédio
A vida, nada mais; o mundo é lama.
Sossega, enfim. Desespera
Pela última vez. À nossa espécie o destino
Mais não deu que o morrer. Despreza-te, a partir de agora,
A ti, à natureza, ao mau
Poder, que, oculto, para nosso comum dano governa,
E à infinita vaidade de tudo.

Tradução de Albano Martins
in Giacomo Leopardi, Cantos, Apresentação, seleção, tradução e notas de Albano Martins,  Vega, Gabinete de Edições, Lisboa, s/d.

 

 

A Se Stesso

Or poserai per sempre,
Stanco mio cor. Perì l’inganno estremo,
Ch’eterno io mi credei. Perì. Ben sento,
In noi di cari inganni,
Non che la speme, il desiderio è spento.
Posa per sempre. Assai
Palpitasti. Non val cosa nessuna
I moti tuoi, né di sospiri è degna
La terra. Amaro e noia
La vita, altro mai nulla; e fango è il mondo.
T’acqueta omai. Dispera
L’ultima volta. Al gener nostro il fato
Non donò che il morire. Omai disprezza
Te, la natura, il brutto
Poter che, ascoso, a comun danno impera,
E l’infinita vanità del tutto.
(1835)

Transcrito de Leopardi, Canti, con uno scritto di Giuseppe Ungaretti, Arnaldo Mondadori Editore S.p.A., Milão, 1987.

 

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Francis Bacon (1909-1992), Estudo para um retrato de 1991.

 

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