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Tag Archives: John Donne

Nenhum homem é uma ilha — A Meditação XVII de John Donne

22 Quarta-feira Jan 2020

Posted by viciodapoesia in Poesia de Língua Inglesa

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John Donne

… não procures saber

Por quem o sino toca,

Ele toca por ti.

Por quem os sinos dobram, frase tornada famosa como título de um livro de Ernest Hemingway, e de um filme nele inspirado com Gary Cooper e Ingrid Bergman, é originalmente, no singular, o terminus da meditação XVII de John Donne (1572-1631) em Devotions upon Emergent Occasions (1624), mais tarde adaptada a poema, e que hoje transcrevo acompanhado por uma tradução minha.

Entender a humanidade como um todo e a ela estender o sentido de pertença, é a mensagem perene da meditação de John Donne. em que vale a pena reflectir uma e outra vez. 

Quanto mais a discórdia assombrar os homens e a lei do mais forte ganhar apoio popular, mais necessário se torna lembrar que amigos e inimigos são sempre parte da mesma humanidade e apenas a justiça da igualdade como lei deve prevalecer, seja na sua dimensão individual, seja colectiva. Hoje, e no que à Europa respeita, o Brexit nas suas motivações e consequências está aí para nos fazer meditar.

 

Poem 

No man is an island,

Entire of itself.

Each is a piece of the continent,

A part of the main.

If a clod be washed away by the sea,

Europe is the less.

As well as if a promontory were.

As well as if a manor of thine own

Or of thine friend’s were.

Each man’s death diminishes me,

For I am involved in mankind.

Therefore, send not to know

For whom the bell tolls,

It tolls for thee.

 

 

Poema — Versão em português 

 

Nenhum homem é uma ilha,

Suficiente por si mesmo.

Cada um é um pedaço do continente,

Uma parte do todo.

Se um torrão for arrastado pelo mar,

A Europa não o é menos.

Tal como se um promontório o fosse.

Bem como se a tua própria casa

Ou a de teus amigos o fosse.

A morte de cada homem diminui-me

Pois sou parte da humanidade.

Portanto, não procures saber

Por quem o sino toca,

Ele toca por ti.

 

Versão em português por Carlos Mendonça Lopes

 

Abre o artigo a imagem de um cartoon alusivo ao Brexit publicado na imprensa.

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John Donne — Nascer do dia

16 Sábado Set 2017

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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John Donne, MEMMO DI FILIPPUCCIO

Depois da noite misteriosa, filosófica, e solitária, de Fernando Pessoa no poema de artigo anterior, [O primeiro de DOIS EXCERTOS DE ODES / de Pessoa/Álvaro de Campos], passemos a uma mais prosaica, acompanhada e prazenteira noite, a tal ponto que chegada a alvorada, o que apetece é continuar.

Falo do poema Break of day — Nascer do dia — de John Donne (1572-1631). Nele, o prosaico revela-se na terceira estrofe, no comentário a como a urgência dos negócios se impõe à continuação dos prazeres do amor que a noite viveu, sublinhando com uma ironia que é peculiar à poesia de John Donne, quanto os prazeres do amor apenas estão permitidos sem baias  a quem anda longe de negócios.

 

…
Quem tem negócios e ama erra tanto
Quanto um homem casado que queira namorar.

 

 

É também, toda ela ironia, mas também prazenteira, a segunda estrofe do poema, [… / Eu quero gostosamente continuar / …], contrariando a ideia corrente da necessidade de viver o amor às escondidas para evitar falatórios [A luz não tem língua, é toda só olhos./ …]. Por outro lado, o poema na primeira estrofe parodia o que foi assunto recorrente na poesia amorosa antiga: a alba, o amanhecer, como o fim do tempo de felicidade junto da amada:

 

Está bem, é dia — e que importância tem?
Ou, por isso, irás sair do meu lado?
Deveremos levantar-nos só porque está luz?

 

Talvez o mais famoso relato desta despedida contrariada seja a que encontramos em Romeo e Julieta de Shakespeare, na cena em que pela primeira vez dormiram (?) juntos.

 

Basta de conversa, vamos ao poema:

Nascer do dia

 

Está bem, é dia — e que importância tem?
Ou, por isso, irás sair do meu lado?
Deveremos levantar-nos só porque está luz?
Deitámo-nos nós porque era noite?
O Amor, que apesar do escuro nos trouxe aqui,
Deverá, a despeito da luz, manter-nos juntos.

A luz não tem língua, é toda só olhos.
Se pudesse falar tão bem quanto espia,
O pior que diria é que, estando bem,
Eu quero gostosamente continuar
E que amo tanto o meu coração e honra
Que, de quem os guarda, não me apartaria.

São os negócios que daqui te afastam?
Oh, essa é a pior doença do amor:
O pobre, o louco, o falso, podem o amor
Acolher, mas nunca o homem atarefado.
Quem tem negócios e ama erra tanto
Quanto um homem casado que queira namorar.

 

 

 

Break of Day

 

‘Tis true, ‘tis day, what though it be?
O wilt thou therefore rise from me?
Why should we rise because ‘tis light?
Did we lie down because ‘twas night?
Love, which in spite of darkness brought us hither,
Should in despite of light keep us together.

Light hath no tongue, but is all eye;
If it could speak as well as spy,
This were the worst that it could say,
That being well I fain would stay,
And that I loved my heart and honour so,
That I would not from him, that had them, go.

Must business thee from hence remove?
Oh, that’s the worst disease of love,
The poor, the foul, the false, love can
Admit, but not the busied man.
He which hath business, and makes love, doth do
Such wrong, as when a married man doth woo.

Tradução de Helena Barbas

 

 

Nota bibliográfica

Transcrito de Poemas Eróticos, Assírio & Alvim, Lisboa, 1995.

 

Abre o artigo a imagem de um detalhe de um fresco do  Palazzo del Podestà em San Gimignano por MEMMO DI FILIPPUCCIO 1300-10.

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