Etiquetas
Não sei que amores vieram e partiram: / Apenas sei que o Verão em mim cantou
Às voltas com o tempo, e o seu efeito nos homens e mulheres, têm corrido as escolhas poéticas recentes. Chega agora a bela versão de Jorge de Sena para um soneto de Edna St. Vincent Milay (1892-1951).
What Lips My Lips Have Kissed
Que lábios os meus lábios já beijaram,
Onde e porquê, esqueci, como em braços
Até pela manhã tive a cabeça;
Mas esta noite a chuva traz espectros
Que batem na vidraça, à escuta, à espera;
E uma saudade calma há no meu peito,
De jovens que não lembro e nunca mais,
Noite alta, me desejam num soluço.
Qual árvore isolada, assim, no Inverno
Não sabe de aves idas uma a uma
E só seus ramos sabe mais silentes,
Não sei que amores vieram e partiram:
Apenas sei que o Verão em mim cantou
Um breve tempo, e já não canta mais.
Termino com o original do soneto, e os leitores fluentes em inglês poderão avaliar melhor a excelência da tradução.
What lips my lips have kissed, and where, and why,
I have forgotten, and what arms have lain
Under my head till morning; but the rain
Is full of ghosts to-night, that tap and sigh
Upon the glass and listen for reply,
And in my heart there stirs a quiet pain
For unremembered lads that not again
Will turn to me at midnight with a cry.
Thus in the winter stands the lonely tree,
Nor knows what birds have vanished one by one,
Yet knows its boughs more silent than before:
I cannot say what loves have come and gone,
I only know that summer sang in me
A little while, that in me sings no more.
Transcrito de American Poetry, The Twentieth Century, volume one, edição The Library of America.
A tradução de Jorge de Sena encontra-se em Poesia do Século XX, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, 1994.
Acompanham o artigo imagens de pinturas do húngaro Geza Voros (1897-1957), autor de varios notaveis retratos femininos.