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Jorge de Sena — ISTO seguido de Glosa à Chegada do Outono

24 Quinta-feira Out 2013

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Degas

Degas - Diego Martelli 1879Isto que … como tempo passa e vais medindo / em rugas e lembranças e em sombrias / e plácidas visões de coisa alguma, … Isto que passa como vida …/ não queiras, não perguntes, não esperes

Abro com um poema de Jorge de Sena (1919-1978) escrito nos tempos sombrios do Portugal de finais dos anos 50, onde a recusa da aceitação da vida como ela se oferecia, corre. Haverá pontos de contacto com a realidade portuguesa de hoje? Sentem os portugueses, hoje, ISTO, assim? Aos leitores a resposta.

 ISTO

Não queiras, não perguntes, não esperes.

Isto que passa como vida e tu

medes em dias, horas e minutos,

ou como tempo passa e vais medindo

em rugas e lembranças e em sombrias

e plácidas visões de coisa alguma,

às vezes sorridentes, mas sombrias;

sim: isto, a que dás nomes, que separas

do resto em que surgiu, de que surgiu;

isto, que já não queres, não interrogas,

de que já nada esperas, mas que queres,

porque perguntas sempre, e por que esperas;

isto, que já não és tu, nem vai contigo,

nem fica quando vais; em que não pensas,

porque ao medir apenas medes e

nada mais fazes que medir — só isto,

apenas isto, isto unicamente:

não queiras, não perguntes, não esperes,

que o pouco ou muito é tudo o que te resta.

1958

Há evidentemente uma leitura atemporal do poema, convocando a reflexão sobre o passar do tempo em cada um e as escolhas por fazer, num adiar que leva para o passado os sonhos quando as rugas e lembranças se instalam no lugar da vontade do novo:

Tem tanta pressa o corpo! E já passou, / quando um de nós ou quando o amor chegou.

E com isto aporto ao poema Glosa à Chegada do Outono também de Jorge de Sena escrito pela mesma época.

 

Glosa à Chegada do Outono

O corpo não espera. Não. Por nós

ou pelo amor. Este pousar de mãos,

tão reticente e que interroga a sós

a tépida secura acetinada,

a que palpita por adivinhada

em solitários movimentos vãos;

este pousar em que não estamos nós,

mas uma sêde, uma memória, tudo

o que sabemos de tocar desnudo

o corpo que não espera; este pousar

que não conhece, nada vê, nem nada

ousa temer no seu temor agudo…

 

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,

quando um de nós ou quando o amor chegou.

1958

 

Notícia bibliográfica e iconográfica

Poemas publicados pela primeira vez em Fidelidade, 1958. Transcritos de Poesia – II, Moraes Editores, Lisboa 1978.

É de Degas (1834-1917) a pintura que acompanha o artigo.

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A mulher no banho vista por Degas

11 Domingo Dez 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Degas

Edgar Degas (1834-1917) conhecido sobretudo como pintor da figura humana em movimento, vejam-se as cenas de corridas de cavalos ou de bailarinas de ballet, pintou a mulher, não enquanto individuo mas evidenciando a forma do corpo em atitudes despreocupadas. Dizia ele que pretendia pintar como se observasse através do buraco de uma fechadura. Deste aspecto da obra reúno um conjunto de pinturas, sobretudo a pastel, técnica preferida do pintor, sobre a mulher depois do banho. São pinturas onde a individualidade desaparece e vemos mulheres não idealizadas mas sim corpos na banalidade das suas formas. A atmosfera de cada pintura garante-lhes a frescura de um instantâneo, sentindo nós, ao observá-las, estar a presenciar aqueles gestos no momento em que olhamos olhamos.

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Acusado de misóginia por Huysmans, e mais tarde por Paul Valery, sobretudo por nestas pinturas não mostrar o belo feminino, a acusação ainda hoje permanece, ainda que o que se conhece da biografia do pintor  não permita tal conclusão.

Acrescento o Auto-retrato do pintor existente na colecção Calouste Gulbenkian e que pode ser visto no respectivo museu em Lisboa.

Tentado pela poesia, Degas deixou inéditos poéticos, de que foi feita, ao que sei, uma edição póstuma em 1946, com oito sonetos e desenhos.

Desses sonetos transcrevo o nº4:

 

Elle danse en mourant, comme autour d’un roseau,

  D’une flute ou le vent triste de Weber joue;

  Le ruban de ses pas s’entortille et se noue,

  Son corps s’affaisse et tombe en un geste d’oiseau.

 

  Sifflent les violons, Fraiche, du bleu de l’eau,

  Silvana vient, et la, curieuse s’ebroue.

  Le bonheur de revivre et l’amour pur se joue

  Sur ses yeux, sur ses seins, sur tout l’etre nouveau,

 

  Et ses pieds de satin brodent, comme l’aiguille,

  Des dessins de plaisir. La capricante fille

  Use mes pauvres yeux, a la suivre peinant.

 

  Mais d’un signe toujours cesse le beau mystere:

  Elle retire trop les jambes en sautant:

  C’est un saut de grenouille aux mares de Cythere.

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