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As experiências sensoriais são parte essencial da aprendizagem de si e do mundo. Ver é uma delas. Olhar e ver os outros é também um processo de aprendizagem como Alberto de Serpa (1906-1992) no poema Riqueza capta:
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Corre, olhar, em roda!
O que te intimida?
A vida? Só toda
Pode amar-se, a vida.
Amar a vida na sua diversidade e variabilidade no tempo é uma aprendizagem sempre inacabada. que o acumular dos anos vividos torna eloquente. É essa riqueza de contínua aprendizagem que o poema traz à nossa atenção.
Riqueza
Por parques e praças,
Ruas e travessas
Tu, meu olhar, caças
A vida. E tropeças.
Uma gargalhada
Vem dum par contente.
Guarda-a bem guardada,
Mas caminha em frente.
Surgem-te sorrisos
Dum lado e de outro lado,
Não faças juízos
Rápidos. Cuidado!
Uma face grave
Nada de revela?
Talvez a dor cave
Só mais tarde, nela.
Num choro, num grito,
Pressentes a dor?
E quedas, aflito.
Segue, por favor.
Segue, bem aberto
Para cada canto!
Olha o desconcerto
Que parece tanto!
Corre, olhar, em roda!
O que te intimida?
A vida? Só toda
Pode amar-se, a vida.
Poema transcrito de Luís Forjaz Trigueiros, Novas Perspectivas (Temas de Literatura 1962-68), União Gráfica, 1969.
O poema inclui-se na escolha “Para uma antologia do segundo modernismo”.
Abre o artigo a imagem de uma das máquinas concebidas por Jean Tinguely (1925-1991). A escultura, Sem título, de 1960, pertence ao Sprengel Museum de Hannover.
Na sua complicação e absurdo, é bem o retrato de como a vida às vezes nos parece. Observá-la ajuda a perceber e destrinçar melhor o essencial do acessório ou inútil.