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Numa noite mágica onde se cruzavam os cheiros da serra e a brisa marinha, jantávamos ao ar livre um grupo de amigos de adolescência. Inevitavelmente vieram à conversa as memórias das noites de Verão e as aventuras de descoberta e paixão adolescente a que Tavira e o mar da sua ilha serviram de cenário.
Eram os últimos anos da década de 60 do séc. XX. O Algarve descobria-se aos turistas estrangeiros e as raparigas vindas do Norte da Europa faziam furor com a sua beleza loura e liberdade de costumes por cá completamente interditos. Do que a cada um aconteceu guardo reserva. O intróito serve tão só para recordar um poema de David Mourão-Ferreira (1927-1996), Een lied voor Margaretha, (Uma Canção para Margaretha) talvez reminiscência de experiência(s) semelhante(s).
Een lied voor Margaretha
Tu vens de terras de Holanda,
mas tens a carne morena.
E em vez de serena, branda
postura que o Norte manda,
teu corpo se desordena
à carícia, por mais branda …
Tu vens das terras de Holanda …
Eu venho de Portugal:
o mesmo é dizer que venho
de longe, do litoral,
e um sabor, no corpo, a sal
definiu meu Fado estranho.
Aqui me tens, donde venho:
Eu venho de Portugal …
Trago nos lábios o Mar,
cheio de vento e de espuma …
E tu mo virás roubar!
— Ai descampados ao ar,
onde houvera ventos, bruma! —
Com saudade hei de lembrar:
tinha nos lábios o Mar …
Hei de lembrar e sofrer
o que for perdendo aqui …
Mas um colo de mulher
tudo merece, e requer
o abandono de si …
Quem me dera que por ti
Venha a lembrar e sofrer …
Tu vens de terras de Holanda,
eu venho de Portugal:
cada um de sua banda …
Sabe o Destino o que manda,
quer pra bem ou quer p´ra mal …
— Não mais as terras de Holanda
e areias de Portugal!
in A Viagem Secreta, segunda edição corrigida e aumentada, ne varietur, Edições Ática, Lisboa, 1958.
Abre o artigo uma foto de Jane Birkin (1946), inesquecível intérprete com Serge Gainsbourg (1928-1991) da canção Je t’aime… mois non plus, icónica canção da revolução sexual dos anos 60, à data proibida em vários países, Portugal e Brasil incluídos.
Tem que ser: Een lied voor Margaretha
Voor = para em holandês (voos não quer dizer nada) e lied com letras pequenas, Lied com maiúscula é Alemão…
🙂
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Cara Hildegard, obrigado pelo comentário. Tem certamente razão e vou corrigir o título do poema, ainda que por agora, em férias não tenha acesso ao texto impresso.para verificar as discrepâncias. Entre o que escrevemos e o corrector escolhe, às vezes passam estes disparates entre linhas. Até breve.
Carlos
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