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Existe cada vez mais a consciência de que a vida afectiva não se extingue progressivamente à medida que a idade avança. Pelo contrário, mesmo entre quem envelhece, o reconhecimento da satisfação afectiva para o conjunto do equilíbrio funcional ganha terreno, tal como junto da família que vê os seus maiores envelhecer. Apenas o envelhecimento do corpo dita as adaptações ao exercício dessa afectividade.
De uma forma suave e tocante, António Manuel Couto Viana (1923-2010) no poema que a seguir transcrevo — Madrigal da terceira idade para afastar a solidão — dá conta dessa manifestação da necessidade afectiva numa vida em idade avançada: o poeta tinha 82 anos quando o escreveu.
Madrigal da terceira idade para afastar a solidão
É um amor discreto,
Ignorado, até.
Só um gesto de afecto,
Um sorriso secreto,
Desfeito, se alguém vê.
É um amor tranquilo,
De alguém que quer alguém
Prá solidão do asilo.
— Coração, ao senti-lo,
Nem aceleras, nem…
É um amor-amizade.
Um amor-simpatia.
Mas, mesmo assim, ele há-de
Deixar dor e saudade
E gerar poesia.
24-11-2005
in Disse e Repito, Averno, Lisboa, 2008.
Belíssimo poema, como todos os do Manuel Couto Viana: estive com ele há já muitos anos num café daqui perto, que então se chamava Ribalta! R uma outra vez em Ponte de Lima…há séculos. Ninguém tinha morrido éramos todos felizes!
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E de repente, traz-me a memória da Ribalta onde, nos anos 70, enquanto estudante do Técnico e morando na vizinhança, nos juntávamos ao café depois do almoço e, sobretudo, do jantar. Era a política, a reforma do mundo, e as festas por vir o que nos ocupava. Também desses, alguns já ficaram pelo caminho. Mas a vida é em frente. Novo ano se aproxima. Obrigado Ivete Centeno: pelos seus comentários e atenção carinhosa com que segue o blog. Feliz Ano Novo!
Carlos Mendonça Lopes
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