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podes vir
de novo e com
o mesmo nome.
Em qualquer lugar
a distância para a morte
é a mesma.
Desigual é apenas
a vida que perdemos…
Com este poema encerram os compiladores o livro póstumo de Vítor Matos e Sá (1926-1975), Companhia Violenta, Coimbra, (1980). Livro de variada escolha, nele abundam os poemas de amor:
Misturo os teus gestos com os dias
para não os perder inteiramente
A poesia de Vítor Matos e Sá entranha-se-me mais e mais a cada leitura. Transcrevo hoje, e ainda deste mesmo livro, mais alguns sábios e tocantes poemas que de amor falam:
…
— afago
para a faminta solidão
dos ombros —
…
*
O amor ensina-me
a dizer-te gesto a gesto
até que cantar-te
pareça feito apenas
de beijos — e crê
cantar-te assim
não vem da perícia
mas dos anos.
**
Trouxeste-me até
à cama intacta
do teu corpo e à verde
transparência dos teus olhos
antecipadores. E deste-me
a certeza dos seios
quase imóveis sob
o incessante coração
intenso e vulnerável.
***
Um e outro deitados
na imóvel areia desta
noite acompanhamos
a vasta rotação
da terra.
****
É o gosto que os frutos deixaram
em teus lábios
a demorada recapitulação das tardes
em tua fronte
e a mão esquecida pelo sol
nos cabelos — afago
para a faminta solidão
dos ombros
e o secreto acordo entre o mar
e o corpo — enquanto
o outro lado dos teus olhos repousa
em grandes cidades-primaveras.
*****
Todos nós temos
os nossos terrores
nossas faces perdidas
algures nas cidades
do Verão da Primavera.
Não é fácil. Eu sei.
É uma dor em que estarás
mais só com a tua
morte, de mais ninguém senão
da importância de seres
única e frágil dentro
dos meus braços.
Para terminar, um poema que aproxima a dimensão filosófica de muita da poesia de Vítor Matos e Sá:
A cara
de morte-por-fora
que o dormir nos dá
sem outro dentro
a não ser a falta
de andar a tempo
pelo andar do mundo
ou a chamar-lhe nosso
só com transportá-lo
ou neste dar morada
ao que de nós se gasta
a desgastar o fundo
que só dele importa
e que por nós se afasta.
e finalmente, do ciclo Poemas para a Construção do Mundo, incluido no primeiro livro do poeta, Horizonte dos Dias (1952), o poema
VII – Epitáfio
Sobraremos em versos nos dias futuros;
hão-de abrir-nos, numa inesperada hora macia,
e uma voz que dirá outros nomes, dias, esperanças,
nos erguerá como um vento desfolha
um antigo silêncio de cortinas…
Belos poemas de Vitor Matos e Sa! Obrigada! Aqui vai em resposta um meu:
Sobraremos em versos Sobraremos em lagrimas De chuva e de amor ZT
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….tão boooooom…Obrigada pela partilha !
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