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Não é fácil dar a ver uma mulher que sonha no ensimesmamento da sua solidão. Olhamos esta jovem e vêmo-la talvez recordar uma vez mais a vida que acabou ou irá acabar. É uma bela jovem casada ou prestes a casar. Mostra uma serenidade resignada, e no entanto, há um quase sorriso que os pensamentos deixam entrever, a ponto de, entregue a eles, abandonar o trabalho na roca de fiar.
Talvez o futuro venha a ser risonho. Afinal o jovem marido ou futuro marido, homem bem parecido, tem o olhar firme e sereno, ainda que desconfiado, o que convém a um mercador disposto a triunfar.
Foram retratos feitos para perpetuar a sua juventude, não certamente a sua felicidade: não há laivo de ternura nos retratos deste casal.
Como sempre, a pintura, ao dar a ver, diz mais que quaisquer palavras. São dois retratos extraordinários onde a complexidade de personalidades e sentimentos se cruzam.
A mestria no detalhe, a cuidadosa composição espacial, e a sobriedade da paleta, são determinantes para o impacto visual de ambas as pinturas.
Deixo a totalidade de cada pintura cujos fragmentos destaquei antes.
Trata-se dos retratos de um casal, possivelmente Gerritsz Bicker e Anna Codde, pintados em Haarlem, na Holanda, por Maarten van Heemskerck (1498-1574), em díptico, em 1529.
As pinturas pertencem à colecção do Rijksmuseum de Amsterdão.