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Poucas vezes a pintura conseguiu com a economia figurativa deste O Bar, pintado por Maurice Vlaminck (1876-1958) em 1900, dar conta de um universo intuído na segurança do olhar frontal da mulher que encostada a um balcão onde um cocktail vermelho pousa, cigarro descaído ao canto da boca, fita o observador —nós— possíveis clientes, eventualmente polícias de bons costumes, enfim, toda a panóplia humana que corre fora da afirmação desta vida por opção.
É apenas a rugosidade da pincelada que assegura a atmosfera e conduz o olhar: do cabelo à flor do casaco.
Na distribuição espacial dos volumes, e tão só uma linha diagonal chega para transmitir profundidade, é a posição do tronco e cabeça, a lembrar A Dama do arminho de Leonardo da Vinci, que, na curva do peito guiam o observador para o vago fundo onde se intui a gente que povoa o bar. E uma ínfima paleta de amarelo, vermelho, branco e preto, a que laivos de azul se juntam, aplicada sobre um desenho sumário, transforma a pintura numa obra inesquecível.