Etiquetas
Terá sido amar o mesmo para todas as gerações? Será amar, para a minha geração, o mesmo que para os jovens nos vinte anos, hoje? Falo de um amar que pressupõe o outro, a quem entregamos, e de quem recebemos, quando correspondido, a plenitude
Nenhuma outra linguagem fala de amor como a poesia, sabemos todos. Encontramos na poesia, entre antigos e modernos, expressões de um sentir que por vezes também é ou foi o nosso. A forma do dizer poético transmite essa emoção condensada por onde os sentimentos mais profundos circulam. E a palavra, tantas vezes, faz-se eco desse indizível que frequentemente nos apanha quando queremos dizer o que no mais fundo de nós grita.
Cada geração encontra a linguagem que faz sua para falar do amor, e afinal, é o eterno desejo de absoluto que exige.
No poema de um jovem de pouco menos de trinta anos, Vasco Fernandes (1985), encontro em meia-dúzia de versos o desejo da vida vivida a dois, na total fusão que o amor pressupõe, reclamada numa entrega sem subterfúgios ou desculpas.
Escrito originalmente em inglês, a versão portuguesa fica esbatida da força vocabular do original. Transcrevo ambas.
WRONG
– What’s wrong?
Wrong?
Do you want to hold my hand as we discover each cobble stone, each arch, each corner of Rome, Paris and Venice?
Do you want our fingers to intertwine for so long and so hard that our bones will show those marks long after we are gone?
Do you want to lay on your knees and give everything of you, with no shame, no regret, just joy?
Do you want to give yourself to pleasure and pain, night after night with no other hope but to stand closer than the night before?
Do you want to hate my enemies and love my friends with a vengeance and adoration so great that they surpass yours?
Do you want to say goodnight, with no heartache, no sorrow, and meet me in your dreams right until we say good morning?
Do you want to lay your head on my shoulder, to find there, and only there, your home?
No? Then that’s what’s wrong.
Versão em português
ERRADO
– O que é que se passa?
Passa?
Queres segurar-me a mão ao descobrir cada pedra, cada arco, cada recanto de Roma, Paris, Veneza?
Queres os nossos dedos entrelaçados por tanto tempo e com tal força, que os ossos mostrarão essas marcas muito depois de partirmos?
Queres prostrar-te de joelhos e dar tudo de ti, sem vergonha, sem arrependimento, só alegria?
Queres dar-te ao prazer e à dor, noite após noite, sem outra esperança a não ser ficar mais perto que na noite anterior?
Queres meus inimigos odiar e meus amigos amar com vingança e adoração tais que ultrapassem os teus?
Queres dizer boa noite, sem angústia, sem tristeza, e encontrar-me nos teus sonhos até ao dizer bom dia?
Queres pousar a cabeça no meu ombro e encontrar ali, e só ali, a paz?
Não? Então é isso que se passa.