06Estes dias de verão abrasador têm uma vantagem obvia: as mulheres. Ocorre-me a cada passo ao andar na rua, um fragmento do poema de Roger Wolfe (1962):

Mulheres

No verão nunca sei muito bem

se é que as mulheres vão tirando a roupa

ou não a chegam a pôr.

Em qualquer caso põem-me doido. …

E se a algumas se aplica o que escrevi anos atrás:

Ei-las que esplendem:

ancas, mamas e barrigas,

e a cintura perdida,

apertadas sob as malhas

da ilusão

e da moda.

a outras, vê-las compensa-nos amplamente da fealdade do mundo.

Estando a trabalhar na cidade, parte do dia ando na rua. É então que o inevitável acontece: surgem de todos os lados, entre semi-despidas ou semi-vestidas como diz o poeta de hoje, e evidentemente mexem com o juízo do homem que vai trabalhar.

Isto mesmo cantava Dorival Caymmi (1914-2008) naquela beleza de canção A vizinha do lado, que aqui fica para quem não conheça.

 

A vizinha do lado

A vizinha quando passa

Com seu vestido grená

Todo mundo diz que é boa

Mas como a vizinha não há

Ela mexe co’as cadeiras pra cá.

Ela mexe co’as cadeiras pra lá.

Ele mexe com o juízo

Do homem que vai trabalhar

 

Há um bocado de gente

Na mesma situação

Todo mundo gosta dela

Na mesma doce ilusão

A vizinha quando passa

Que não liga pra ninguém

Todo mundo fica louco

E o seu vizinho também

 

A vizinha quando passa

Com seu vestido grená

Todo mundo diz que é boa

Mas como a vizinha não há

Ela mexe co’as cadeiras pra cá.

Ela mexe co’as cadeiras pra lá.

Ele mexe com o juízo

Do homem que vai trabalhar

 

Ela mexe co’as cadeiras pra cá.

Ela mexe co’as cadeiras pra lá.

Ele mexe com o juízo

Do homem que vai trabalhar

 

Há um bocado de gente

Na mesma situação

Todo mundo gosta dela

Na mesma doce ilusão

A vizinha quando passa

Que não liga pra ninguém

Todo mundo fica louco

E o seu vizinho também.

Mas se acontece trabalhar no escritório com a janela aberta, surgem, por vezes, o que parecem alucinações – veja-se esta pintura:

07Por hoje despeço-me. Amanhã voltamos ao sério.