Vejo, vendo-me, o que ninguém vê.
Aqui, sentado na esplanada da minha infância, observo ao longe as palmeiras que morrem lentamente, assassinadas pelo mosquito vindo de África. As gentes passeiam lentamente no empedrado saturado.
Simultâneamente a tudo isso, vejo tendas de feirantes em sábado de aleluia, e miúdos correndo em torno dos tabuleiros de amêndoas confeitas, brancas, rosa e azul, e, centro de atenção e desejo inatingível, os enormes ovos de açúcar com amêndoa ao meio, de todos os mais cobiçados.
Vejo o tempo, o que vivi, e o que antes de mim passou, nestes muros e janelas em volta, impávidos, ao ciclo das estações.
Vejo o que não vê quem ao meu lado conversa e olha com agrado na pausa de curtas férias. E um consolo de alma desce sobre a tarde que lentamente se desvanece.
Vejo, vendo-me, o que ninguém vê.
29 Sábado Dez 2012
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