• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: Robert Delaunay

O olhar é um pensamento. Poema de Herberto Helder com dois olhares sobre a mulher

29 Sábado Out 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

≈ 1 Comentário

Etiquetas

Herberto Helder, Julia Nikonchuk, Robert Delaunay, Sonia Delaunay

O olhar é um pensamento.

Tudo assalta tudo, e eu sou a imagem de tudo.

O dia roda o dorso e mostra as queimaduras,

a luz cambaleia,

a beleza é ameaçadora.

– Não posso escrever mais alto.

Transmitem-se, interiores, as formas.

 

Divido-me, no fascínio de olhar, entre a pintura e a fotografia, cativando-me sobremaneira a mulher imaginada pelos caminhos da arte.

Trago hoje ao blog dois exemplos maiores e antitéticos desse olhar a mulher através da arte.

Primeiro uma visão da mulher na fantasia de Joan Miró (1893-1983)

Esta mulher-cloaca de Miró, carnívora e chifruda, representa quanto recusamos ver na mulher enquanto ideal, mas que algumas vezes lá está.

No espantoso poder de síntese da arte mostra-se o indizível, tantas vezes sentido,  e quanto nessa medida sabemos existir.

É o lado animal, a fêmea, o que aqui se dá a ver, e sempre procuramos na mulher, ainda que gostemos de o encontra envolvido nas roupagens da feminilidade e da graça.

Segue uma fotografia ecoando o orfismo de Robert Delaunay (1885-1947) pela fotógrafa bielorussa – Julia Nikonchuk.

Na foto de Júlia Nikonchuk é o arco-íris das possibilidades da beleza que se mostra. Há a harmonia da forma, a elegância do gesto e a impenetrabilidade do rosto escondido, fazendo apenas supor o sentimento que, em acordo com a beleza entrevista, talvez lá esteja.

Mas a fêmea não está ausente, e as pinturas corporais, tal como o gesto, remetem-nos, apesar da sofisticação, para decorações do corpo entre alguns povos da África Negra, em rituais propiciadores da fecundidade.

Complemento esta breve mostra com uma pintura de Robert Delaunay (1885-1947) que tem a ver connosco, portugueses, e se chama precisamente Mulher Portuguesa. Serve como exemplo do caminho cruzado com o orfismo enquanto corrente estética derivada do cubismo.

Nesta Mulher Portuguesa de Robert Delaunay, é o encanto das cores primarias a sobressair sobre a trivialidade e superficial abordagem do humano. A mulher existe apenas nas vestes, embora na atitude ligeiramente curvada da figura  algum peso do quotidiano difícil ali se mostre.

Vestidas de pintura, a mulher fotografada e a portuguesa de Delaunay, são antiteticas imagens, também elas, da mulher imaginada que os autores nos dão a ver. À sensualidade da fotografia opõe-se uma espécie de manequim vestido de cores vivas, o que de alguma forma recorda o trabalho maior de Sonia Delaunay no desenho de padrões para tecidos de moda. Houve no casal Sonia/Robert uma simbiose de inspiração e semelhança de técnica, visível na obra de ambos.

Robert Delaunay foi amigo de Amadeo de Souza-Cardoso, e com a mulher, Sonia Delaunay, estiveram em Portugal parte do tempo que durou a 1ªguerra mundial, altura provável para recolher a inspiração  que ditou a pintura. Vivendo em Amarante, e passeando pelas terras do norte de Portugal, são as cores dos trajes minhotos e dos seus barros pintados, que a pintura evoca.

Noticia bibliográfica:

Poema de HERBERTO HELDER (1930) incluido no livro DO MUNDO, na versão publicada em OU O POEMA CONTÍNUO em 2004 por Assírio & Alvim.

Partilhar:

  • Tweet
  • Carregue aqui para enviar por email a um amigo (Abre numa nova janela) E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • Clique para partilhar no WhatsApp (Abre numa nova janela) WhatsApp
  • Pocket
  • Clique para partilhar no Telegram (Abre numa nova janela) Telegram
Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 2.348.938 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 894 outros subscritores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • As três Graças - escultura de Canova e um poema de Rufino
  • Pelo Natal com poemas de Miguel Torga
  • Fernando Pessoa - Carta da Corcunda para o Serralheiro lida por Maria do Céu Guerra

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Create a free website or blog at WordPress.com.

Privacy & Cookies: This site uses cookies. By continuing to use this website, you agree to their use.
To find out more, including how to control cookies, see here: Cookie Policy
  • Subscrever Subscrito
    • vicio da poesia
    • Junte-se a 894 outros subscritores
    • Already have a WordPress.com account? Log in now.
    • vicio da poesia
    • Subscrever Subscrito
    • Registar
    • Iniciar sessão
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver Site no Leitor
    • Manage subscriptions
    • Minimizar esta barra
 

A carregar comentários...
 

    %d