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Elegia da Minha Infância de José Maria Valverde (1926-1996)

03 Sábado Set 2011

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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José Maria Valverde

Sabe bem trazer em nós a sensação de que continuamos o menino que fomos. Significa  que julgamos ainda ter ao nosso alcance a possibilidade da despreocupada harmonia dum mundo que nos surge perfeito na distância a que o vemos. Por isso percebo o apelo de José Maria Valverde(1926-1996):

 Oh, Senhor, aquele menino que era eu, /suplica-te, morto,/que o deixes viver no meu presente um pouco!


Escreve isto José Maria Valverde no seu poema Elegia da Minha Infância, e, noutro passo, dá-nos a sua visão da plenitude de ser quando escreve:

Só vivo por completo quando volto a menino.

 acrescentando depois:

 Que continue em mim, Deus meu – como tu nos dizias -,/ e viverei completamente,/ e sentirei plenamente a vida,/ e serás o meu assombro virginal cada manhã…/

Elegia da Minha Infância


Eis a minha fotografia de criança
a cravar em mim meus olhos, mais profundos que nunca,
com uma coisa vaga
pousada entre as mãos, distraídas e leves.
É o banco de pedra
– os pés não chegando ao chão ainda –
do parque de meus sonhos infantis
onde o sol era amigo
e a areia tomava
um tacto de mãe velha e conhecida.


… Guardo a imagem turva
de um menino que, de repente, se distrai
no meio dos jogos
e ao poente fica pensativo
a escutar o rumor distante das ruas…


O mundo ia nascendo pouco a pouco
para mim unicamente.
A terra era uma alegre maçã de merenda,
um balão de cores inesperado.
Os pássaros cantavam porque eu estava a ouvi-los,
as árvores nasciam quando eu abria os olhos…


E os medos, depois…
Tudo podia ser no escuro do quarto.
Ao fundo do corredor
pulsava todo o negro deste mundo,
todas as vagas forças inimigas,
todas as negações…


Alma da minha infância!
Só vivo por completo quando volto a menino.
Que outra revelação maior do que essa
do mundo e da vida em minhas mãos?
(… quando todas as coisas eram como palavras…)
Que sonho como aquele
de pressentir do limiar da alma
os dias a esperar-me?


Oh, Senhor, aquele menino que era eu,
suplica-te, morto,
que o deixes viver no meu presente um pouco!
Que continue em mim, Deus meu – como tu nos dizias -,
e viverei completamente,
e sentirei plenamente a vida,
e serás o meu assombro virginal cada manhã…


A tradução a partir do castelhano é de José Bento, e foi incluida na já aqui diversas vezes citada Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea publicada por Assírio & Alvim.

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