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Shakespeare — soneto 28 em traduções de Carlos de Oliveira e Vasco Graça Moura

18 Terça-feira Mar 2014

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Carlos de Oliveira, Jean-Honoré Fragonard, Shakespeare, Vasco Graça Moura

Fragonard,_Inspiration 1769Há um sofrimento de amor na distância do(a) amado(a) que ao rescrever o soneto 28 de Shakespeare (1564-1616), Carlos de Oliveira (1921-1981) torna explícito. Não assim a versão de Vasco Graça Moura (1942) que, ao procurar respeitar a rima e utilizar um preciosismo de linguagem de sabor antigo, conserva a ambiguidade que o original também autoriza.

 

Eis as duas versões seguidas do original.

 

 

Soneto 28 reescrito por Carlos de Oliveira

 

Como voltar feliz ao meu trabalho

se a noite não me deu nenhum sossego?

A noite, o dia, cartas dum baralho

sempre trocadas neste jogo cego.

Eles dois, inimigos de mãos dadas,

me torturam, envolvem no seu cerco

de fadiga, de dúbias madrugadas:

e tu, quanto mais sofro mais te perco.

Digo ao dia que brilhas para ele,

Que desfazes as nuvens do seu rosto;

digo à noite sem estrelas que és o mel

na sua pele escura: o oiro, o gosto.

  Mas dia a dia alonga-se a jornada

  e cada noite a noite é mais fechada.

 

Transcrito de Obras de Carlos de Oliveira, Editorial Caminho, Lisboa, 1992.

 

Soneto 28 em versão de Vasco Graça Moura

 

Posso voltar à leda condição

sem ter descanso ao menos que me anime?

O dia oprime e vir a noite é vão,

a noite ao dia, o dia à noite oprime,

reinos adversos que em consentimento

se dão as mãos a torturar-me-me e basta,

um por fadiga, o outro por lamento

de mais penar que mais de ti me afasta.

Que és claro digo ao dia a ver se agrado,

que lhe dás graça indo as nuvens altas,

e à noite lisonjeio o turvo estado,

que a não haver estrelas tu a esmaltas.

  Longas penas diárias traz-me o dia,

  maior pena noturna a noite cria.

 

Transcrito de Os Sonetos de Shakespeare versão integral, Desenhos de Jorge Martins, Bretrand Editora, Lisboa, 2007.

 

SONNET 28

 

How can I then return in happy plight,

That am debarred the benefit of rest?

When day’s oppression is not eased by night,

But day by night and night by day oppressed?

And each (though enemies to either’s reign)

Do in consent shake hands to torture me,

The one by toil, the other to complain

How far I toil, still farther off from thee.

I tell the day to please him thou art bright,

And dost him grace when clouds do blot the heaven;

So flatter I the swart-complexioned night,

When sparkling stars twire not thou gild’st the even.

  But day doth daily draw my sorrows longer,

  And night doth nightly make grief’s length seem stronger.

 

Transcrito de Complete Sonnets and Poems, edited by Colin Burrow, Oxford University Press, 2002.

 

Acompanha o artigo a imagem de uma pintura de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) — Inspiração.

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