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Cecco Angiolieri – Soneto LXXXVI

24 Terça-feira Jul 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Cecco Angiolieri, Simone Martini

À época de Cecco Angiolieri (1260-1320) a cultura em Siena, de onde era natural, atingia um pico e rivalizava com Florença no que ao domínio das artes respeita. Entre as obras-primas que nos chegaram deste curto século, destacam-se a pintura de Duccio, dos Lorenzetti, sobretudo os frescos do bom e mau governo, e a pintura de Simone Martini, a cuja obra voltarei a propósito de Laura e Petrarca, mas de quem hoje escolho o famoso cavaleiro solitário para ilustração deste artigo.

Com a mordacidade e o desbocado herdado da poesia goliárdica, os sonetos de Cecco Angiolieri (1260-1320) são no seu conjunto pouco conhecidos hoje. Contemporâneo de Dante, com quem polemicou poeticamente, da sua poesia reúnem-se hoje 129 sonetos, alguns dos quais com autoria questionada. Registo no blog a existência do poeta com o seu provavelmente mais famoso soneto, o nº86, no original italiano e na tradução portuguesa de Herculano de Carvalho.

A linearidade da argumentação na enumeração do uso do poder, e a clareza do discurso dispensam a intermediação interpretativa. Apenas a constância com que os defeitos (e virtudes) humanas atravessam os séculos vale a pena destacar.

Soneto LXXXVI

Se fora fogo, eu abrasava o mundo,
Se fora vento eu o arrasaria,
Se eu fora a água então o afogaria,
Se fora Deus, mandava-o pró profundo.

Se fora papa, em delírio jucundo
A todos os cristãos eu prenderia,
Se fora imperador, o que faria?
Golpeava a todos o pescoço, fundo.

Se fora morte, ao meu pai procurava,
Se fosse vida, o não queria mais
E coisa igual com minha mãe se dava.

Se fosse Cecco, como o sou de mais,
As mais linda mulheres p’ra mim guardava
E deixaria as feias para os mais.

Tradução de Herculano de Carvalho

Original do Soneto LXXXVI

S’i fosse fuoco, arderei ‘l mondo;
s’i fosse vento, lo tempestarei;
s’i fosse acqua, i’ l’annegherei;
s’i fosse Dio, mandereil’ en profondo;

s’i fosse papa, allor serei giocondo,
ché tutti cristiani imbrigarei;
s’i fosse ‘mperator, ben lo farei;
a tutti tagliarei lo capo a tondo.

S’i fosse morte, andarei a mi’ padre;
s’i fosse vita, non starei con lui;
similemente faria da mi’ madre.

Si fosse Cecco com’i’ sono e fui,
torrei le donne giovani e leggiadre:
le zoppe e vecchie lasserei altrui.

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