• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: Cantiga de Amigo

Uma cantiga de amigo sobre a mulher só

08 Quinta-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Cantiga de Amigo, Natália Correia

16É da idade média que nos chega este canto de solidão nocturna.

Gira o mundo, aumenta a variedade na farmácia, mas o remédio continua a ser o mesmo:

Diferente é a noite quando ele aparece / meu lume e senhor e o dia me traz; / pois apenas chega logo a luz se faz.

Vamos então à cantiga com modernização de Natália Correia.

Sem o meu amigo sinto-me sózinha
e não adormecem estes olhos meus.
Tanto quanto posso peço a luz de Deus
e Deus não permite que a luz seja minha.
Mas se eu ficasse com o meu amigo
a luz agora estaria comigo.

Quando eu a seu lado folgava e dormia
depressa passavam as noites; agora
vai e vem a noite, a manhã demora;
demora-se a luz e não nasce o dia.
Mas se eu ficasse com o meu amigo
a luz agora estaria comigo.

Diferente é a noite quando ele aparece
meu lume e senhor e o dia me traz;
pois apenas chega logo a luz se faz.
Vai-se agora a noite, vem de novo e cresce.
Mas se eu ficasse com o meu amigo
a luz agora estaria comigo.

Padres-nossos já rezei mais de um cento
implorando Àquele que morreu na cruz
que cedo me mostre novamente a luz
em vez destas longas noites de Advento.
Mas se eu ficasse com o meu amigo
a luz agora estaria comigo.

Pode dar-se o caso de a cantiga ser uma profunda modernização  de uma poesia de Pedr’ Eanes Solaz, o que não tenho a certeza, cuja  primeira quadra canta assim:

Eu velida nom dormia / lelia doura / e meu amigo venia / ed oi lelia doura

de acordo com a transcrição proposta por Rip Cohen na edição crítica de 500 Cantigas d’Amigo.

Na erudita nota do editor, lelia doura pode ser lida como líya ddáwara ‘a mim a vez (= é a minha vez) em árabe andaluz. líya, um alomorfe de li ‘a mim,’ ‘para mim’, é foneticamente /leia/, e lelia pode ser ou um erro por leiia.

Ed oi é romance ibérico arcaico < et hodie com vocalização do -t- intervocálico no interior da expressão.

Na dúvida sobre a correspondência, e porque o português arcaico é de difícil leitura, não transcrevo a totalidade da canção e aqui fica a informação onde pode ser encontrada.

500 Cantigas d’Amigo, edição critica de Rip Cohen, Colecção Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, Campo de Letras Editores, 2003, pag. 287.

 

Partilhar:

  • Tweet
  • Carregue aqui para enviar por email a um amigo (Abre numa nova janela) E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • Clique para partilhar no WhatsApp (Abre numa nova janela) WhatsApp
  • Pocket
  • Clique para partilhar no Telegram (Abre numa nova janela) Telegram
Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 2.348.953 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 894 outros subscritores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • As três Graças - escultura de Canova e um poema de Rufino
  • Pelo Natal com poemas de Miguel Torga
  • Fernando Pessoa - Carta da Corcunda para o Serralheiro lida por Maria do Céu Guerra

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Create a free website or blog at WordPress.com.

Privacy & Cookies: This site uses cookies. By continuing to use this website, you agree to their use.
To find out more, including how to control cookies, see here: Cookie Policy
  • Subscrever Subscrito
    • vicio da poesia
    • Junte-se a 894 outros subscritores
    • Already have a WordPress.com account? Log in now.
    • vicio da poesia
    • Subscrever Subscrito
    • Registar
    • Iniciar sessão
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver Site no Leitor
    • Manage subscriptions
    • Minimizar esta barra
 

A carregar comentários...
 

    %d