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Tag Archives: Camões

De Camões, 2 sonetos de amor

18 Segunda-feira Jan 2010

Posted by viciodapoesia in Cânone XXI

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Camões

Quase toda a lírica de Camões é uma sublime declaração de amor.  Daquele amor que “…é fogo que arde sem se ver”, que “É um contentamento descontente”, “É nunca contentar-se de contente” e por aí adiante, qual seja:

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Hesitei sobre qual dos poemas de Camões escolher para estrear a presença do poeta no blog. De entre as dezenas que fazem a minha memória de leitor, a escolha caiu nesta inesquecível forma de dizer o que é amar.

Insatisfeito, pois queria mais, não resisti a acrescentar um canto do amor ausente. Verdade de sentimento que,  enquanto a mágoa de perder a quem se ama cruzar o mundo, será um bálsamo na consolação da ausência, fazendo presente em nós aquela


“Alma minha gentil, que te partiste”.

Num tom de resignada saudade, o poeta expandindo o que lhe vai na alma, mostra-nos mais à frente no poema, a verdade do sentimento a transbordar no pedido:

“Roga a Deus, … que tam cedo me leve a ver-te”

pondo fim à desolada aceitação de

“Viva eu cá na terra sempre triste.”

Ainda que recordação da morte da amada, o soneto não será o poema da maior dor, mas é certamente a mais sublime declaração de amor em poesia.


Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.


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