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Em brejeirices de final do ano eis um epigrama atribuído a Théophile de Viau (1590-1626),  poeta de curta vida, condenado à fogueira aos trinta e três anos por heresia e libertinagem. Ausente de França, para execução da sentença foi queimado em esfinge. A sentença foi depois aliviada para prisão perpétua, o que de pouco serviu para os poucos anos que entretanto viveu.

O poema conta como um gordo abade, deitado, se entregava aos cuidados de uma esforçada freira, que lhe tentava erguer o membro. Vendo o sem sucesso da empresa, diz-lhe a freira: — Senhor, diga Magnificat, pois ao ouvi-lo todo o mundo se levantava.

Transcrevo o original para leitores familiarizados com o francês, e acrescento uma minha versão para português que conservando a rima, palidamente se aproxima da graça e elegância do original, em assunto habitualmente procaz.

 

Épigramme 

 

Un gros abbé se laissait en sa couche 

Tater le vit aux mains d’une nonain 

Mais son engein demeurait sous sa main 

Sans se mouvoir tout aussi qu’une souche; 

Cette nonain, que n’avait point de trêve, 

Voyant son vit demeurer aussi plat, 

Lui dit: Monsieur, dites Magnificat; 

Quand on le dit tout le monde se lêve.

 

Versão para português por Carlos Mendonça Lopes:

 

Epigrama

 

Na cama, um gordo abade entregue

A mãos de freira o membro tinha,

Mas tal engenho inerte segue:

Tal qual um morto se mantinha.

A freira trabalhava até ao fundo

E da verga vendo o tenaz pendor,

Ao abade sugere: — Diga Magnificat, Senhor,

Dizê-lo faz levantar o que há no mundo.

 

 

E agora uma imagem possível do pós-Magnificat numa gravura de Peter Geiger (1805-1880):

A imagem integra uma colecção de 10 gravuras eróticas de Peter Geiger (1805-1880), numa edição privada com 530 cópias, Viena, 1909.

A colecção mostra um conjunto típico do chamado período Biedermeier.