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Embora velhas de mais de trezentos anos, as Resoluções para quando envelhecer escritas por Jonathan Swift (1667-1745) em 1699, conservam em grande parte a acutilância e acerto que as faz intemporais.
Aparentemente, como consequência do envelhecimento, alguns comportamentos são de sempre: considerar que os tempos estão mudados e quando se era jovem é que a vida valia a pena, que os jovens … . Enfim, argumentos conhecidos também hoje.
A sensata lista de Swift que quase integralmente podia servir para os nossos dias, é, evidentemente, como as resoluções de Ano Novo, ou os propósitos de emagrecer:
Não me dispor a cumprir todas estas regras, por receio de não observar nenhuma delas., como o poeta ironicamente conclui.

 

 

Resoluções para quando envelhecer

Não casar com mulher nova.

Não procurar a companhia da gente moça, a menos que ela queira.

Não ser impaciente, nem rabugento,nem desconfiado.

Não depreciar o presente, as suas concepções, modas, homens, guerras, etc.

Não ser doido por crianças, mas também não as repelir.

Não estar sempre a contar a mesma história às mesmas pessoas.

Não ser avarento.

Não negligenciar o decoro, ou o asseio, para não cair na sordidez.

Não ser demasiado severo para com a gente nova, mas ser tolerante para as suas loucuras e fraquezas.

Não ser influenciado, nem dar ouvidos ditos e mexericos de criados, ou seja de quem for.

Não estar sempre a dar conselhos, a menos que nos peçam.

Pedir a alguns bons amigos que me apontem, entre estas resoluções, aquelas que eu não tiver cumprido, ou tiver negligênciado, e em quê; e modificar-me de acordo com essas críticas.

Não falar demais, sobretudo de mim.

Não me gabar de minha beleza passada, da minha força, nem do meu valimento junto das damas, etc.

Não dar ouvidos à lisonja, nem pensar que posso ser amado por uma jovem, “et eos qui hoereditatem captant, odisse ac evitare“.

Não ser categórico nas minhas afirmações, nem teimoso.

Não me dispor a cumprir todas estas regras, por receio de não observar nenhuma delas.

(escrito em 1699)

 

Esta tradução vem incluída na edição de Preceitos para uso do pessoal doméstico, Editorial Estampa, Lisboa, 1970.

 

 

Abre o artigo a imagem do detalhe de uma pintura de Edvard Munch (1863-1944), Auto-retrato frente à parede de casa, de 1926.