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O poema que hoje dou em versão portuguesa tem como ponto de partida a versão em inglês de um hino de Rig Veda, colecção de hinos em sânscrito com datação aproximada entre (1500-1200 a. C.), e  base de religiões hindu.

Isolado da crença específica, nele podemos encontrar um desejo de harmonia no mundo envolvente, que a repetição do conceito de doçura acentua:

Doce seja a noite,

doce o amanhecer,

doce seja a fragrância da terra,

doce Pai do Céu!

 

Na incapacidade dos homens por si só construírem um universo harmonioso, a invocação do além é a saída para a manifestação desse desejo de que o mundo em redor seja repleto de bênçãos.

 

 

Poema 

 

Possa o vento soprar doçura,

os rios fluírem doçura,

das ervas crescer doçura,

para o Homem da Verdade!

 

Doce seja a noite,

doce o amanhecer,

doce seja a fragrância da terra,

doce Pai do Céu!

 

 Possa a árvore dar-nos doçura,

 o sol brilhar com doçura,

 nossas vacas produzirem doçura —

 leite em abundância!

 

Versão de Carlos Mendonça Lopes a partir do inglês.

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Arpad Szenes (1897-1985), Aldeia do Algarve, de 1975.

Tudo o que de bom as memórias da infância me trazem está associado a estas terras do Algarve, para onde os olhos se viram sempre, na busca desse desejado mundo harmonioso.