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A expressão emocional através dos olhos é indissociável do género humano e os poetas embrulham-se nela das mais diversas formas e um pouco em todas as épocas e latitudes. Apenas o génio poético reflecte a maior ou menor felicidade na sua enunciação.

Hoje viajamos até ao médio-oriente, ao encontro de uma sua formulação especialmente feliz, num poema atribuído a Al-Mutanabbi (915-965), nascido no Iraque, e poeta maior do panteão árabe ao tempo da desintegração do califado dos Abássidas. (E como a história desses tempos ilumina as lutas de hoje por Síria e Iraque).

 

Poema

Chegou-me uma carta da amada dizendo que virá,
e os meus olhos inundaram-se de lagrimas;

venceu-me a felicidade a tal ponto
que esta enorme alegria me fez chorar.

Olhos meus, as lágrimas são vosso costume
e chorais na felicidade e no desgosto,

recebei com semblante risonho o dia do encontro
e as lágrimas deixai para a noite da separação.

 

Citado em Teresa Garulo, Diwan de las poetisas de Al-Andalus, Ediciones Hiperión, Madrid, 1998.

Tradução de Carlos Mendonça Lopes

 

Abre o artigo a imagem de uma miniatura persa por Reza Abbasi (1565 – 1635), de 1634, representando um jovem português, que bem podia ficar comovido até às lágrimas com a notícia da visita da amada distante.