Ao Cancioneiro Popular Português fui buscar algumas quadras à volta do amor. Contam elas alegrias e desgostos, falam de amores ligeiros ou eternos, saudades e promessas vãs. Tudo naquela mescla de ingenuidade e sabedoria a que o verso de sete sílabas e a quadra chamada de pé-quebrado (rima abcb) transmite um especial encanto.
Antes dos assuntos sérios do amor, e porque tudo isto é para cantar, façamos um breve intróito à conta da inspiração:
Eu sei fabricar cantigas
Mesmo com o pó do chão:
Inda bem não digo uma,
Já vem outra de roldão…
E para o poeta que também é tocador, algumas apreciações:
O tocador da viola
É bonito, toca bem:
Amigo das raparigas,
É o pior que ele tem!
Mas nem sempre o tocador tem o coração volúvel, se não, leiam:
Eu dedilho na guitarra
As cordas do coração.
Pela guitarra é que eu tive
A posse da tua mão.
E se mulher não há…
Guitarra, minha guitarra,
Só tu és a minha amiga:
Ficas comigo na cama,
És a minha rapariga.
Feito o intróito, passemos ao sério:
O amor quando se encontra
Causa penas e dá gosto:
Sobressalta o coração,
Sobem as cores ao rosto.
Isto sabido, vamos aos variados estados amorosos:
A dúvida:
Tenho um dedo que adivinha,
Um dedo que me diz tudo;
Perguntei-lhe se me amavas,
Mas o ladrão ficou mudo…
A certeza:
Não te amo por um dia
Nem só por uma semana;
Amo-te por toda a vida,
Se o coração não me engana.
O estado apaixonado:
Mal sabes quanto me alegro
Quando te vejo defronte:
É como quem morre à sede
E põe a boca na fonte!
O meu coração do teu
É bem ruim de apartar:
É como a alma do corpo
Quando Deus a vem buscar.
Ai, muito custa uma ausência
A quem na sabe sentir!
Mas mais custa uma presença
De ver e não possuir!
Dormindo sonho contigo,
De dia contigo estou;
Tua imagem vem comigo
P’ra todo o lado onde vou.
Esta noite sonhei eu
Cuidando que era já tua;
Tive tantas alegrias
Como pedras há na rua!
O amor e o seu fim:
Lá vai o rio correndo
Oh, quem mo dera agarrar!
O amor é como o rio:
Vai-se e não torna a voltar.
Ainda que o lume se apague
Na cinza fica o calor;
Ainda que o amor se ausente
No coração fica a dor.
Aquele primeiro amor
Que no mundo tem a gente
Não sei que doçura tem
Que lembra constantemente
(Var) Que alembra eternamente.
Outras variadas formas de viver o amor onde entre peitos e penas surge alguma variedade expressiva:
Ó minha bela menina,
Ponha o seu amor só num;
Não traga muitos à trela,
Que pode ficar sem nenhum.
Ando cansado da vida,
Ando doente do peito;
Dá-me xarope de beijos,
Dá-me chá de amor-perfeito.
Esta noite me obrigaram
A dormir c’uma morena;
A pena maior que eu tive:
Ser a noite tão pequena.
A pena com que te escrevo
Não é de nenhum pavão,
Criada foi em meu peito,
Junto do meu coração.
Despeço-me com vontade de ser o passarinho da quadra final:
Que passarinho é aquele,
Que no ar faz ameaços?
Com o bico pede beijos,
Com as asas pede abraços!
Elisabete Pessoa said:
Olá, estou escrevendo a minha tese sobre o cancioneiro dos ciganos da Cidade Nova e quero fazer uma comparação com o cancioneiro popular português, mas estou com muita dificuldade para encontrar uma bibliografia de apoio e em que eu possa encontrar as quadras. Ao encontrar esse site, acho que essas quadras me interessam, mas preciso da bibliografia para dar o embasamento teórico.
Obrigada
GostarGostar
viciodapoesia said:
Elisabete Pessoa, boa tarde,
Pode escrever-me para o e-mail viciodapoesia@gmail.com com as questões que entender. Responderei tão bem quanto souber.
Cumprimentos,
Carlos Mendonça Lopes
GostarGostar
Taiza said:
Essas pessoas sao uns apaixonados so sabem falar de amers rasos afeeeee
Nao sei nao sei viu
GostarGostar
Taiza said:
Essas quadras populares de amores são umas verdadeiras BOSTAS ISSO SIM !!!!!!
GostarGostar