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Na transbordante imaginação pictórica escondida nos manuscritos medievais encontram-se prodígios a que a simbologia do figurado acrescenta uma dimensão metafísica incomparável.

 

Hoje mostro o que será uma representação da alma segurando entre as mãos o coração.

A alma, na forma de mulher-anjo (não sei de “anjas” na mitologia cristã) com asas coloridas, acaricia e interroga(?) o coração. Afinal, o que permanentemente fazemos: Vamos atrás do coração? Seguimos a razão? Ou deixamos que a alma faça a síntese e encontre o caminho que a ambos satisfaz?

 

Exemplar meditação representada, olhemos. E no olhar pensemos: onde está a beleza do mundo que à volta da alma meditativa gira. Em nós está o quê? Como caminhamos neste mundo e dele faremos parte?

 

Boa Páscoa!

Deixo-vos com um poema de Rabindranath Tagore (1861-1941)

 

 

Não voltes atrás

 

Se os portais do meu coração

Estiverem sempre fechados,

Rebenta-os e entra na minha alma,

Senhor, não voltes para trás.

 

Se um dia destes as cordas da minha harpa

Não ressoarem com o teu nome,

Na tua espera digna de piedade,

Senhor, não voltes para trás.

 

Se quando me chamares

A sonolência do meu sono não passar,

Bate-me e acorda-me com o teu trovão,

Senhor, não voltes para trás.

 

Se um dia destes no teu trono

Eu colocar alguém sem pensamentos,

Meu eterno Rei,

Não voltes para trás!

 

Tradução de José Agostinho Baptista

in Rabindranath Tagore, Poesia, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.

 

Nota sobre a pintura

 

Título: A alma dialogando com o seu coração

Pintura sobre pergaminho integrante do livro Mortifiement de vaine plaisance, de René d’Anjou, cerca de 1460.

Fólio 31 do manuscrito 165 da colecção do Fitzwilliam Museum, Cambridge (Mass.).